Frederico Arnaud
Na vida acadêmica, me deparei com as dificuldades do serviço público. Ingênuo e inexperiente, ousei me apaixonar por aqueles hospitais grandiosos e tradicionais, mas cheios de mazelas, sempre faltando isso ou aquilo, sempre com profissionais dedicados e exaustos, quase sempre com médicos gestores e não gestores médicos. O Sistema Único de Saúde (SUS), esse sistema tão querido e duramente penalizado pela incompetência dos homens ou pela sua falta de caráter, arrasta-se ao longo dos anos, oferecendo aquilo que lhe é possível dar.
Minha inteligência, ainda que diminuta, sempre esperou que, nos anos seguintes, as condições adversas desse sistema fossem sendo corrigidas e que evoluiríamos para um modelo mais moderno, eficiente e humano. No entanto, os anos passaram, e a cada dia fui adentrando ainda mais nas entranhas desse labirinto infinito: chefe disso, coordenador daquilo, funcionário daquele outro. Comecei a perceber a repetição de pautas, reuniões intermináveis para definir o que já havia sido decidido há pelo menos 10 anos. E, a cada ano, tudo se reiniciava, e os velhos problemas seguiam sendo os novos problemas.
O que acontece com essas inteligências? Por que há mais de 30 anos discutimos as mesmas questões? Hospitais superlotados, pacientes internados em cadeiras e corredores, inúmeros doentes em UTIs que morrem em salas de emergência, equipes muitas vezes desqualificadas ou em número bem inferior ao necessário para garantir um atendimento seguro. Muitos dirão que foram construídos vários hospitais e outros equipamentos. Eu diria: sim, foram, mas os problemas continuam os mesmos. Por quê? Não adianta dizer que isso ou aquilo foi feito quando, ao chegar a um hospital, encontramos 100 pacientes nos corredores, idosos e crianças em situações indignas para um ser humano.
Veio a pandemia, e um surto de esperança nos acometeu. A COVID-19 trouxe um misto de esperança e decepção. Inicialmente, houve um esforço coletivo para melhorar as condições do sistema de saúde, mas a corrupção e a má gestão rapidamente minaram esses esforços. Equipamentos foram desviados, recursos foram mal utilizados e, no fim, a população mais vulnerável pagou o preço com suas vidas.
Cada dia no serviço público de saúde é uma batalha. Os desafios são inúmeros e variam desde a falta de insumos básicos até a sobrecarga de trabalho dos profissionais. A infraestrutura, muitas vezes precária, não favorece um atendimento de qualidade. As longas filas e a espera angustiante por uma consulta são rotina para muitos brasileiros que dependem do SUS.
Os profissionais de saúde que atuam no serviço público são, em sua maioria, dedicados e comprometidos. No entanto, a falta de valorização e as condições de trabalho desumanas afetam diretamente a qualidade do atendimento. Estes profissionais, muitas vezes, enfrentam jornadas exaustivas e são expostos a situações de extrema pressão, sem o devido reconhecimento ou suporte.
A gestão no serviço público de saúde é um capítulo à parte. A burocracia excessiva e a falta de planejamento estratégico eficaz são entraves constantes. As decisões parecem estar sempre atreladas a interesses políticos, e não ao bem-estar da população. Reuniões intermináveis e pautas repetitivas fazem parte do cotidiano, e as soluções efetivas raramente são implementadas.
A grande novidade do momento é a presença de políticos medíocres nos hospitais, não para solucionar problemas, mas para humilhar profissionais de saúde e posar como defensores do povo. Hipócritas! Porque não vão resolver as mazelas milenares desse sistema cruel e desonesto.
Por que não melhoram as condições de trabalho dos profissionais, que convivem com esgotos contaminados em hospitais que mais parecem casas abandonadas? Até hoje, quando o homem já foi à Lua e já temos carros voadores, os hospitais não possuem um simples sistema integrado de acompanhamento. Não há computadores em número suficiente sequer para gerar estatísticas. E o mais grave: os grandes GESTORES são MÉDICOS ou profissionais de saúde.
Apesar de todas as adversidades, não podemos perder a esperança de dias melhores. É necessário um compromisso real com a reforma do sistema de saúde, investimentos em infraestrutura, valorização dos profissionais e, principalmente, uma gestão transparente e eficiente. Para que possamos, enfim, evoluir para um sistema verdadeiramente moderno, eficiente e humano, é imprescindível uma mudança de mentalidade e de prioridades.
Há 30 anos repito esta frase: CORREDOR NÃO É LEITO, SALA DE PARADA NÃO É UTI, mas sinto apenas o silêncio da solidão que insiste em imperar nas cabeças daqueles que poderiam modificar essa realidade. A perseverança dos profissionais de saúde e a resiliência da população que depende do SUS são, sem dúvida, motivos de esperança.
Contudo, não podemos apenas esperar por mudanças. Precisamos nos empenhar ativamente na construção de um sistema de saúde mais justo e eficiente para todos.
Não gostaria de chegar aos 60 anos ainda repetindo as mesmas palavras.
Precisamos avançar
Emergência já, Amor pra sempre.
"EMERGÊNCIAS – Estamos entrando num campo onde o conhecimento técnico aliado a ação imediata podem definir a VIDA ou a Morte de um ser humano". FA.