Carlos Alberto de Melo Filho1; Aline Ferreira Miranda1; Daise Costa Silva1; Willyana Ravanielly Oliveira de Carvalho1; Rafael Lima Soares2; Camila Alves Melo3
Resumo
INTRODUÇÃO: Objetivo deste estudo foi avaliar o impacto da utilização do POCUS no tempo de pausas entre compressões durante RCP.
METODOLOGIA: Revisão da literatura nas bases de dados PubMed, Embase e Scopus, utilizando “pocus” AND “Cardiopulmonary Resuscitation” como estratégia de busca. Os resultados foram exportados para o site “rayyan intelligent systematic review” para facilitar o processo de inclusão e exclusão dos artigos e os seguintes passos foram realizados: leitura atenta dos títulos e resumos; exclusão e inclusão de artigos; leitura completa dos artigos incluídos; extração de dados; análise dos dados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: A busca nas bases de dados resultou em 92 publicações. Destas, 86 foram excluídas e apenas 6 artigos foram incluídos para análise. 5 estudos mostraram que o uso do POCUS na RCP aumenta o tempo das interrupções nas compressões. Entretanto, com intervenções educacionais de feedback individualizado e com a implementação do protocolo Cardiac Arrest Sonographic Assessment (CASA) houve uma redução no tempo de análise do pulso e, consequentemente, de pausas nas compressões na RCP com o uso do POCUS.
CONCLUSÃO: Sugerimos que o POCUS seja operado por um profissional treinado e experiente e que não esteja conduzindo a reanimação.
INTRODUÇÃO
Respaldada por evidências científicas de alto nível, a ultrassonografia (US) pode ser utilizada em várias situações na emergência, visto que é um método econômico, de alta precisão e livre de efeitos colaterais. Além disso, quando realizado por um médico treinado, pode reduzir testes posteriores.1
Com o intuito de otimizar a reanimação cardiopulmonar (RCP), as diretrizes recomendam o emprego de diversas ferramentas para avaliar o processo de reanimação e possibilitar o retorno da circulação espontânea (RCE). Dentre essas ferramentas, o ultrassom point of care (POCUS) ganhou destaque, sendo recomendado para o uso na RCP quando houver suspeita de causas reversíveis desde 2015, embora os seus impactos nos resultados clínicos ainda não estivessem totalmente claros.2,3,4
Na PCR, o POCUS permite ajudar a diagnosticar rapidamente causas reversíveis da parada, avaliar qualidade de compressões e avaliar resposta às intervenções, quando realizado por um profissional clínico treinado. Além disso, tem a capacidade de fornecer informações prognósticas de retorno a circulação espontânea.5
No entanto, o desempenho do POCUS durante RCP é desafiador e pode dificultar a aquisição e a interpretação das imagens. Esses desafios podem aumentar o tempo das interrupções entre as compressões em que pulso e ritmo são verificados, definidos pelo algoritmo da American Heart Association (AHA) como 10 segundos.2,6,7
Nesse sentindo, este estudo teve como objetivo avaliar o impacto da utilização do POCUS no tempo de pausas entre compressões torácicas durante RCP.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão da literatura nas bases de dados PubMed, Embase e Scopus. A busca foi realizada por um autor em 18 de março de 2022, utilizando a seguinte estratégia de busca: “pocus” AND “Cardiopulmonary Resuscitation”.
Como critérios de inclusão, utilizou-se: estudos clínicos randomizados, retrospectivos, coortes ou observacionais em português ou inglês. Revisões de literatura, relatos de caso, diretrizes e comentários; artigos com animais; e artigos que não estavam relacionados com o objetivo deste estudo foram excluidos.
Os resultados foram exportados para o site “Rayyan intelligent systematic review” para facilitar o processo de inclusão e exclusão dos artigos e os seguintes passos foram realizados: 1- leitura atenta dos títulos e resumos; 2- exclusão e inclusão de artigos; 3- leitura completa dos artigos incluídos; 4- extração de dados; 5- análise dos dados.
Extraiu-se autor, ano de publicação, desenho do estudo, resultados e conclusões. Os dados então foram tabulados para a análise dos autores.
Por se tratar de uma revisão de literatura, não houve a necessidade de aprovação por comitê de ética em pesquisa.
RESULTADOS
A busca nas bases de dados resultou em 92 publicações, sendo 35 da base PubMed, 25 da Embase e 32 da Scopus. Destas, 31 eram duplicadas, 39 eram revisões de literatura, relatos de caso, diretrizes ou comentários, 4 eram estudos com animais e foram excluídas. 18 artigos em texto completo foram examinados e 12 foram excluidos por não contemplar o objetivo deste estudo. Assim, apenas 6 artigos foram incluídos para análise (Imagem 1).
O quadro 1 apresenta o resumo da metodologia e conclusões das pesquisas incluidas neste estudo. A maioria dos estudos eram coorte prospectiva. Em 5 trabalhos houve aumento do tempo de pausas entre as compressões torácicas durante a RCP quando se utilizou o POCUS e em apenas um desses 6 artigos não houve aumento do tempo de pausas.
DISCUSSÃO
Este trabalho se propôs a avaliar o conhecimento atual sobre o impacto da utilização do POCUS no tempo de pausas entre compressões durante RCP. Observamos que a maioria dos estudos relatam atraso nas compressões quando o POCUS foi utilizado.
Dos estudos que demonstraram intervalos maiores entre as compressões, três não relataram, em sua metodologia, treinamento prévio da equipe. Essa falta de treinamento pode ter sido um viés para os resultados dessas pesquisas, uma vez que há a necessidade de habilidade e agilidade do operador para não atrapalhar as compressões, bem como a interpretação e diagnóstico são operador-dependente.14
O estudo de Kreiser e colaboradores (2022)8, a publicação mais recente incluida em nosso estudo, foi o único a mostrar que o uso do POCUS não aumentou o tempo de interrupções, sendo que pausas foram menores que os 10 segundos preconizados pela AHA em 94,7% dos atendimentos. Outro dado interessante sobre esse estudo é que ele destaca, em sua metodologia, o treinamento dos profissionais antes de incluir o POCUS como adjuvante na RCP. Isso corrobora com hipótese de que o aumento do tempo entre as compressões relatadas nos estudos analisados pode ter ocorrido pela falta de treinamento dos operadores.
Embora os estudos de Yamane et al., (2020)10 e Clattenburg e colaboradores (2018)11 tenham mostrado maior tempo nas interrupções com o uso do POCUS, eles também demonstraram que, com intervenções educacionais de feedback individualizado e com a implementação do protocolo Cardiac Arrest Sonographic Assessment (CASA), há uma redução no tempo de análise do pulso e, consequentemente, de pausas nas compressões com o uso do POCUS.
Além disso, o estudo de Clattenburg et al (2018)11, que avaliou a implementação do protocolo CASA na PCR, destaca que há redução do intervalo de pausas quando o POCUS é realizado por profissionais com treinamento adicional e ao colocar a sonda do US no tórax antes de parar as compressões. Isso faz com que o profissional encontre uma janela ecocardiográfica apropriada antes da pausa e interpretá-la mais rapidamente.
Outro aspecto que implica em maior tempo durantes as pausas é o mesmo profissional que está conduzindo a ressuscitação realizar o POCUS, isso foi associado a pausas de RCP 6,1s mais longas do que quando outro profissional realizou o POCUS12.
Cabe salientar ainda que o presente estudo apresenta algumas limitações que devem ser consideradas. Em primeiro lugar, encontramos poucos trabalhos na literatura que analisaram a interferência do POCUS nos intervalos das compressões durante a RCP. Além disso, ressalta-se as diferentes metodologias adotadas em cada estudo e o possível viés associado a falta de treinamento dos profissionais que utilizaram o POCUS durante a PCR.
CONCLUSÃO
Nossos resultados sugerem que o uso do POCUS pode prolongar o tempo das interrupções para checar pulso e ritmo na RCP. Entretanto, esse tempo pode ser reduzido com intervenções educacionais e protocolos que sistematizam o seu uso. Assim, sugerimos que o POCUS seja operado por um profissional treinado e experiente e que não esteja conduzindo a reanimação. Além disso, observamos que ainda são necessários mais estudos para conhecer o impacto do uso do POCUS nos resultados clínicos.
REFERÊNCIAS
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3. Link MS, Berkow LC, Kudenchuk PJ, Halperin HR, Hess EP, Moitra VK, et al. Part 7: Adult Advanced Cardiovascular Life Support: 2015 American Heart Association Guidelines Update for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Circulation. 2015 Nov 3;132(18 Suppl 2):S444-64.
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